Publicação: 20/02/2020
Dia
Internacional da Mulher
8 de Março
Mulheres em defesa da vida, dos direitos, da democracia e pelo fim
da violência.
O tema igualdade de gênero tem sido abordado
mundialmente já há algum tempo. A exemplo dessa imensa batalha que as
mulheres e meninas enfrentam cotidianamente em busca de seus direitos, a
ONU em 1995 adotou na 4ª Conferência Mundial sobre Mulheres a plataforma
de ação de Pequim, que é considerada como o roteiro mais progressista
para o empoderamento de mulheres e meninas no mundo e que em 2020
comemora o seu 25º aniversário. Nota-se que apesar de todo o esforço
empreendido na ampliação e manutenção de direitos na busca pela
igualdade de gênero, o consenso atual é de que, independentemente dos
progressos alcançados, as mudanças reais têm sido muito lentas para a
maior parte das mulheres e meninas ao redor do mundo.
Segundo a ONU, hoje nenhum país pode afirmar que alcançou a igualdade de
gênero. Inúmeros obstáculos permanecem inalterados na lei e na cultura
desses países, dificultando as transformações necessárias à promoção da
igualdade. Mulheres e meninas continuam desvalorizadas; trabalham mais;
ganham menos; possuem menos opções; e experimentam múltiplas formas de
violência, tanto no âmbito doméstico como nos espaços públicos.
Além da lentidão no avanço de direitos há uma significativa ameaça de
retrocesso nos direitos duramente conquistados.
No Brasil, a exemplo, a redução no orçamento direcionado às políticas
públicas para mulheres tem como consequência o aumento da violência, e
os casos de feminicídio, assassinato de mulheres por violência doméstica
ou por discriminação de gênero tem cada vez mais ocupado espaço na
grande mídia, sem que ocorram medidas suficientes para inibir esses
acontecimentos.
Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública indicam que a taxa
total de homicídios no Brasil caiu 10% em 2018, mas o número de mulheres
assassinadas pelo simples fato de serem mulheres ou por violência
doméstica cresceu 4% no mesmo período, o que significa que uma mulher é
morta a cada 8 horas no país. É importante ressaltar que para
especialistas no tema como Isabela Guimarães Del Monde, da Rede
Feminista de Juristas, o que houve foi um aumento da violência contra
mulher e do feminicídio, e não apenas o aumento no número de denúncias
feitas pelas mulheres. Esse quadro conforme mencionado anteriormente,
reflete a queda no orçamento federal para políticas públicas de proteção
à mulher e combate ao feminicídio, aumentando a vulnerabilidade dessa
parcela de população.
Isabela ainda afirma que, para ter os números reais é preciso que a
sociedade pare de responsabilizar a mulher pela violência que ela sofre,
de modo que seja criada uma cultura da denúncia e do acolhimento à
vítima e à sobrevivente. Mas, para isso é preciso que haja investimento
em polícia científica e investigativa que faça apurações corretas de
acordo com as melhores práticas internacionais de investigação de crimes
baseados em violência de gênero.
“É preciso que investigações sejam feitas sem base em mitos e sensos
comuns e também que todos os aparatos envolvidos em casos de crimes como
as delegacias, hospitais, IML [Instituto Médico Legal], Ministério
Público, Judiciário, advocacia, etc., sejam reorganizados para a
compreensão sobre violência baseada em gênero”, diz Isabela.
Números do Feminicídio:
O feminicídio acontece em todas as faixas etárias,
mas é significativamente maior entre mulheres em idade reprodutiva,
sendo 29,8% de vítimas com idade entre 30 e 39 anos, 28,2% de entre 20 e
29 anos e 18,5% tinham entre 40 e 49 anos quando foram mortas, e na
grande maioria dos casos (88%), pelos próprios companheiros ou
ex-companheiros.
O crime não tem idade para acontecer, como vimos nos números acima, mas
tem cor e classe social. As mulheres negras são as que mais morrem, são
61% das vítimas, contra 38,5% de brancas, 0,3% indígenas e 0,2%
amarelas. E 70,7% dos casos, tinham no máximo ensino fundamental.
Isto se dá porque a mulher negra nunca conquistou a cidadania plena e
muitas ainda são tratadas como objetos. Porém, são essas mesmas mulheres
que seguram a base da sociedade, estão nas posições mais precárias, seja
ao acesso ao mercado do trabalho, a saúde, moradia, direitos sexuais e
reprodutivos.
A CNTI apesar de todo cenário desfavorável, continuará denunciando esta
e outras tragédias brasileiras em todos os cantos do país, fortalecendo
a luta e combatendo o retrocesso de direitos. Continuaremos firmes e
fortes enquanto movimento sindical, no ativismo nas ruas com as mulheres
e com os movimentos sociais. Só a luta garantirá nossa sobrevivência.
Fontes: ONU Mulher. Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Secretaria para Assuntos do Trabalho da Mulher, do Idoso e da
Juventude – CNTI.
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