Publicação: 04/04/2022
Nem tanto ao mar, nem
tanto à terra:
qual futuro nos reserva a
mineração
em Minas Gerais e no Brasil?
Leonardo Guerra, Economista
Eduardo Armond, Coordenador da Rede Sindical de
Barragens da Internacional da Construção ICM
“ a mineração é a principal atividade industrial
de Minas Gerais, e denomina o Estado.”
Foto:Ag.Brasil
O
Estado de Minas Gerais, e os mineiros, vivem um dilema, em meio às ao
passado trágico e as perspectivas catastróficas sobre a segurança das
barragens inseguras e decadentes a montante, vive-se a necessidade
econômica e social de continuar operando as minas e gerando emprego e
renda, numa atividade industrial a cada vez mais automatizada,
terceirizada e intensiva em tecnologias, conhecimento e tecnologias
todas estas majoritariamente importadas.
Não há dúvida de que, no mundo, a extração mineral, notadamente a de
minério de ferro será crescente nos próximos anos. Estudos
internacionais são unânimes em apontar que o crescimento das economias
já desenvolvidas e de novos emergentes como da China da índia e mesmo o
Brasil, dependerão do aumento da produção em todos os setores da
mineração por muitos anos.
Quando estudamos nas fases históricas aprendemos na escola que a
humanidade passou pela idade da pedra lascada, idade da pedra polida,
pela idade do bronze, idade do ferro e posteriormente do aço, e agora
entramos na faze dos novos materiais e na era da indústria química,
sempre remetendo a formas de produção relacionadas a utilização dos bens
minerais sejam minérios sejam petróleo. Agora estamos na idade das
terras raras e dos novos materiais que tem origem na indústria química e
de materiais compostos ligados a nano tecnologias como o grafeno. Ou
seja a própria referência do desenvolvimento da humanidade se remete a
utilização humana dos materiais, majoritariamente bens minerais, não há
escapatória a mineração e a utilização dos bens minerais pois são a base
do desenvolvimento da civilização humana.
Em sua faze atual de desenvolvimento da civilização o modo de produção
capitalista, Independente de suas mazelas, sempre seguiu aumentando a
produção de bens e avançando na utilização da natureza, apesar da lógica
absurda do consumismo e da concentração de riqueza na mão de poucos, o
fato e que não fosse pela concentração de riqueza, hoje a produção
econômica geral da sociedade humana seria suficiente para retirar toda a
humanidade da indigência e da pobreza.
Nos dois setores básicos para um desenvolvimento humano a demanda da
indústria da construção, exigem minérios, o setor da construção civil
leve residencial e da infra estrutura construção civil pesada, devem
construir e reconstruir infraestruturas, abastecimento de agua, esgoto,
cidades e edifícios, ou seja na argila e cimento para construção, e
minério de ferro, alumínio, cobre, aglomerados da construção, também
minérios como, pedras, granitos, tijolos, areia etc. Temos um déficit
habitacional de 7 milhões de moradias e outros milhões com necessidades
de infra estrutura, a necessidade de esgoto e estradas para atender
estas milhões de famílias, como fazer sem tijolo, cimento, ferro etc,
não tem jeito, há que inexoravelmente minerar.
Já para alimentação a necessidade é ainda maior, considerando a
necessidade de produção de fertilizantes para produção de alimentos,
temos a necessidade de fosfato, e de outros minerais, incluindo ai as
alternativas como a rochagem, para produção de alimentos, aqui estamos
falando no básico, para as agricultura familiar e a agro indústria de
exportação, é produção em larga escala para atender milhões, há que
Minerar.
Voltando ao dilema: como o ex-maior exportador mundial deste produto
“Minas Gerais” vai se posicionar para este futuro próximo? Inibindo a
sua principal atividade industrial ou, incluindo a sustentabilidade no
dilema e orquestrando sua convivência com ela?
Que efeitos a agenda da sustentabilidade e as grandes catástrofes
(Mariana e Brumadinho) e ainda os riscos aqui existentes reconhecidos
irão influenciar neste debate? Como produzir e beneficiar os bens
minerais com segurança e respeito ao meio ambiente e responsabilidade
trabalhista e social? Qual será nossa agenda econômica e legislativa?
O que defendemos aqui que, as demandas trabalhistas, sociais humanas e
ambientais existentes, são problema, mas também são uma oportunidade de
fazer e refazer neste processo produtivo e na economia, existe uma
inquestionável agenda ambiental, econômica, social e trabalhista a ser
discutida entre todos de forma integrada e sem restrições.
Especialmente, nas Câmeras legislativas, federal e estadual, mas também
e principalmente nos sindicatos nas associações e ongs e inclusive nas
empresas, não podemos prescindir de ninguém nesta discussão.
Temos que desativar, descaracterizar, descomissionar as 48 Barragens a
Montante, e além disto, repensar o modelo de tratamento de resíduos na
mineração, a tecnologia de tratamento de resíduos da mineração que hoje
são apenas jogados e armazenados nas barragens, verdadeiros lixões de
minérios, tem que ser repensados, modificados e refeitos, com introdução
de novas tecnologias seguras, que utilizem menos agua e aproveitem os
resíduos de forma produtiva. Desta forma a prioridade não é só
descomissionar as barragens a montante, e sim repensar o modelo de
tratamento de resíduos da mineração como um todo.
Sempre caminhamos olhando exaustão física das Minas ou vamos antecipar
isto com um pré-julgamento do futuro? Há uma grande escolha a ser feita
neste momento, e isto tem que acontecer além dos debates amesquinhados e
apaixonados, superficiais e isolacionistas sobre este tema.
Pois este é o tema da agenda do desenvolvimento econômico sustentável do
nosso estado e do nosso pais, e neste sentido, é importante frisar que
no cenário internacional, as exportações brasileiras deverão ser
crescentes. Devem se manter, no mínimo, no mesmo patamar dos últimos
anos. Com um quantum de 450 milhões de toneladas/ano. É curioso pensar
que anos atrás, 2/3 destas exportações saiam daqui, de Minas Gerais, e
que hoje apenas 1/3 são minerados no sítio do quadrilátero ferrífero. E
importante lembra que existe potencial aqui, sim.
Precisamos construir uma agenda, um marco legal e um novo processo
produtivo seguro, que traga de volta os investimento minerários ao
Estado de Minas Gerais. Isto é imprescindível. Mas não só temos que
minerar e industrializar, temos que fomentar a produção industrial local
não apenas a exportação. Você já parou para pensar que nos anos 90,
quando 2/3 do minério de ferro exportado pelo Brasil saia de Minas
Gerais não existia crise fiscal? A produção primária ativa uma extensa
rede de fornecedores, e pode com indução de investimentos reativar a
produção industrial. Mas não podemos apenar nos consolar com a criação
de empregos de má qualidade, manter a lesão ao meio ambiente e
justificativa para falhas na segurança do trabalho e da vida das
pessoas. Sim, os impactos econômicos da mineração precisam ser vistos
tanto pela sua produção econômica e também pela suas mazelas.
A mineração não é apenas um ônus, a mineração, strictu sensu, é
desenvolvimento também e pode ser um potencial maior de evolução
econômica. Mas temos que saber que hoje é um processo industrial que põe
em risco a vida dos trabalhadores das comunidades e o meio ambiente: A
mineração e a construção pesada a ela ligados hoje são campeões de
acidentes de trabalho e com um impacto cada vez maior nos milhares de
trabalhadores terceirizados que já somam mais de 60% do homens e
mulheres envolvidos na mineração, além disto temos o impacto cada vez
maior de gasto com água, esta cada vez mais escassa, e requer muita
energia elétrica e muita movimentação de carga e infra estrutura, esta é
a realidade.
Temos que mudar de atitude e atuar de maneira proativa e cooperada sobre
esta realidade. Assim, vamos minorar os riscos e atuar no sentido de
garantir a recomposição dos impactos sociais, ambientais e trabalhistas,
uma coisa deve estar ligada a outra. Mineração sim, mas não a mineração
predatória e insegura. Terceirização é possível, mas não a terceirização
selvagem. Produção econômica primaria sim, mas não exclusivamente para
exportação, devemos ter o desenvolvimento industrial local interligado.
E sobre isto, quem deve falar somos todos nos e não apenas os
legisladores.
Risco existe, sim. “Viver é muito perigoso”, lembram? Por isto devemos
atuar na introdução de tecnologias, respeito as leis ambientais e
trabalhistas que devem ser formuladas para mitigar riscos, e para
aumentar a segurança ambiental e trabalhista e apenas para mudar que são
consideradas inexequíveis, temos que pensar como regras exequíveis e
seguras.
Assim, retornamos ao dilema. Como combinar a necessidade inevitável da
produção mineral com a qualidade de vida intergeracional? Como
introduzir na agenda a questão da industrialização dos produtos
primários e da sustentabilidade enquanto modelo econômico, e não o
chamado “meio ambientalismo” enquanto seita, devemos sim tratar a
sustentabilidade enquanto princípio, ecológico, trabalhista, social
principalmente de potencial para o desenvolvimento econômico.
Este quadro assume proporções ainda maiores quando testemunhamos as
terríveis tragédias recentes, e a falta de um debate sereno sobre esta
agenda sobre o futuro. Vamos deixar de ser reativos ou vamos trilhar um
rota do desenvolvimento e do futuro? Vamos realizar uma Conferencia
Publica Nacional de Mineração.
Desta forma, como diz o poeta “Minas são Muitas” e desta forma são
Gerais e devem ser de todos.
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