HP – Qual o principal empecilho para a economia
voltar a crescer de forma robusta?
José Reginaldo – A taxa de juro absurda do
Brasil, de 13,75%, que custa em torno de R$ 500
bilhões, por ano, aos cofres públicos, acentua a
desigualdade e a miséria do povo. Impede o
desenvolvimento econômico, mergulha o país no
desemprego. Afeta, principalmente, a classe
trabalhadora, responsável por toda extensa estrutura
que possui a nossa terra. Somos um país rico, com um
PIB de quase R$ 10 trilhões, um PIB per capita de R$
46 milhões, por ano, um dos maiores do mundo, mas
com uma desigualdade extrema, que não condiz com a
sua riqueza. Segundo o PNAD, 1% dos mais ricos
ganham 38,4 vezes o que ganham os 50% mais pobres.
A classe trabalhadora endividada foi surpreendida
essa semana com a decisão do Superior Tribunal de
Justiça, que permite a penhora dos salários,
exatamente para os que especulam e assaltam a nação.
Como se ela fosse a responsável por essa dívida,
movida a juro de 13,75%. Como se a população
estivesse pagando uma pena, como se devesse para o
rentismo uma dívida impagável, alimentada por uma
busca incessante de um malcriado superávit primário,
que tem uma mão caridosa que arbitra um juro
escorchante.
HP – Que papel desempenha o presidente do BC?
JR – O lado sombrio do país, instituído pela
Lei Complementar 179 – sobre a autonomia do BC –, é
considerada, por algumas mentes colonizadas, uma
ideia genial do ministro da Economia do governo
anterior: uma única pessoa, o presidente do Banco
Central, ter na sua mão autonomia para proporcionar
lucros extraordinários, abarrotar os bolsos, atender
a ganância voraz de rentistas do mundo inteiro. Não
importa se, para isso, terá que desconstruir
políticas públicas, sucatear setores da saúde, do
saneamento e da educação, deteriorar o patrimônio e
a infraestrutura nacionais.
HP – Afinal, qual é o papel?
JR – A atual e única função do presidente do
Banco Central é controlar, maximizar, o atraso, o
retrocesso, o desequilíbrio, o desemprego, a
pobreza, a desigualdade e a exclusão social. É muito
estranho, é uma ancoragem inversa, que não projeta
um Brasil melhor, mas um Brasil ruim para o povo
brasileiro e muito bom para quem a pátria é o
dinheiro. O chamado controle da inflação virou
descontrole geral do Estado brasileiro, da justiça
social, da soberania nacional.
Será o papel de quem se sobrepõe ao presidente da
República? De quem se sobrepõe aos Poderes
Legislativo, Judiciário e Executivo? De desconhecer
o art.1º da Constituição, da República Federativa do
Brasil deixar de ser a união indissolúvel de estados
e municípios, e estes se tornarem reféns da
presidência do BC. A dignidade da pessoa humana,
prevista no inciso 3º, não é vista por quem está à
frente do BC.
Será possível que o presidente do Banco Central não
saiba que equilibrar as despesas do governo
brasileiro passa, principalmente, por reduzir essa
taxa de juros de 13,75%?
Quem está à frente do BC se torna cúmplice de um
arregalo imenso de crimes contra o povo. Fica muito
claro que há alguém, de modo criminoso, trabalhando
contra o povo brasileiro.
HP – E, com a autonomia do BC, o que se pretende?
JR – O óbvio muitas vezes tem que ser
repetido incansavelmente, dizia Darci Ribeiro, para
trazer à compreensão coisas que estão literalmente
imersas. O óbvio nos diz que a autonomia do Banco
Central é autonomia só em relação à nação
brasileira. Não há nenhuma autonomia em relação aos
rentistas, só subserviência. O BC está na mão deles.
Com essa autonomia, eles mandam no país.
HP – Qual a sua conclusão?
JR – Com essa gente, não vai dar, não.
Fonte: Hora do Povo