Publicação: 23/05/2023

 

 

“Juro do BC acentua a miséria do povo e impede o desenvolvimento econômico”, afirma diretor da Nova Central

 

Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados


Segundo Reginaldo, da Nova Central, “autonomia” do BC é para atender a ganância voraz de rentistas do mundo inteiro. Não importa se, para isso, terá que sucatear setores da saúde, do saneamento e da educação


Publicamos, a seguir, entrevista exclusiva ao HP de José Reginaldo Inácio, diretor de Formação Sindical e Qualificação Profissional da Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), secretário de Educação da CNTI e diretor de Educação e Relações Sindicais do Sindicato dos Eletricitários do Sul de Minas. Autor de vários livros, Reginaldo tem também doutorado em Serviço Social: Mundo do Trabalho.


Para o líder sindical, “a taxa de juro de 13,75% acentua a desigualdade e a miséria do povo”. Considera que “a autonomia do Banco Central foi instituída para beneficiar os rentistas”. Reginaldo declarou que a única função do presidente do BC é controlar, maximizar, o desemprego e a pobreza “para uma ancoragem inversa, que projeta um Brasil ruim para o povo, mas ótimo para os rentistas”. Reginaldo afirma que “fica muito claro que há alguém, de modo criminoso, trabalhando contra o povo brasileiro”. Vamos à leitura.


CARLOS PEREIRA


HP – Qual o principal empecilho para a economia voltar a crescer de forma robusta?


José Reginaldo – A taxa de juro absurda do Brasil, de 13,75%, que custa em torno de R$ 500 bilhões, por ano, aos cofres públicos, acentua a desigualdade e a miséria do povo. Impede o desenvolvimento econômico, mergulha o país no desemprego. Afeta, principalmente, a classe trabalhadora, responsável por toda extensa estrutura que possui a nossa terra. Somos um país rico, com um PIB de quase R$ 10 trilhões, um PIB per capita de R$ 46 milhões, por ano, um dos maiores do mundo, mas com uma desigualdade extrema, que não condiz com a sua riqueza. Segundo o PNAD, 1% dos mais ricos ganham 38,4 vezes o que ganham os 50% mais pobres.


A classe trabalhadora endividada foi surpreendida essa semana com a decisão do Superior Tribunal de Justiça, que permite a penhora dos salários, exatamente para os que especulam e assaltam a nação. Como se ela fosse a responsável por essa dívida, movida a juro de 13,75%. Como se a população estivesse pagando uma pena, como se devesse para o rentismo uma dívida impagável, alimentada por uma busca incessante de um malcriado superávit primário, que tem uma mão caridosa que arbitra um juro escorchante.


HP – Que papel desempenha o presidente do BC?


JR – O lado sombrio do país, instituído pela Lei Complementar 179 – sobre a autonomia do BC –, é considerada, por algumas mentes colonizadas, uma ideia genial do ministro da Economia do governo anterior: uma única pessoa, o presidente do Banco Central, ter na sua mão autonomia para proporcionar lucros extraordinários, abarrotar os bolsos, atender a ganância voraz de rentistas do mundo inteiro. Não importa se, para isso, terá que desconstruir políticas públicas, sucatear setores da saúde, do saneamento e da educação, deteriorar o patrimônio e a infraestrutura nacionais.


HP – Afinal, qual é o papel?


JR – A atual e única função do presidente do Banco Central é controlar, maximizar, o atraso, o retrocesso, o desequilíbrio, o desemprego, a pobreza, a desigualdade e a exclusão social. É muito estranho, é uma ancoragem inversa, que não projeta um Brasil melhor, mas um Brasil ruim para o povo brasileiro e muito bom para quem a pátria é o dinheiro. O chamado controle da inflação virou descontrole geral do Estado brasileiro, da justiça social, da soberania nacional.


Será o papel de quem se sobrepõe ao presidente da República? De quem se sobrepõe aos Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo? De desconhecer o art.1º da Constituição, da República Federativa do Brasil deixar de ser a união indissolúvel de estados e municípios, e estes se tornarem reféns da presidência do BC. A dignidade da pessoa humana, prevista no inciso 3º, não é vista por quem está à frente do BC.


Será possível que o presidente do Banco Central não saiba que equilibrar as despesas do governo brasileiro passa, principalmente, por reduzir essa taxa de juros de 13,75%?


Quem está à frente do BC se torna cúmplice de um arregalo imenso de crimes contra o povo. Fica muito claro que há alguém, de modo criminoso, trabalhando contra o povo brasileiro.


HP – E, com a autonomia do BC, o que se pretende?


JR – O óbvio muitas vezes tem que ser repetido incansavelmente, dizia Darci Ribeiro, para trazer à compreensão coisas que estão literalmente imersas. O óbvio nos diz que a autonomia do Banco Central é autonomia só em relação à nação brasileira. Não há nenhuma autonomia em relação aos rentistas, só subserviência. O BC está na mão deles. Com essa autonomia, eles mandam no país.


HP – Qual a sua conclusão?


JR – Com essa gente, não vai dar, não.

 

Fonte: Hora do Povo