Publicação: 20/11/2025

 

 

CONSCIÊNCIA NEGRA – Um olhar para o passado, presente e futuro da igualdade racial no Brasil

 


A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI), ao destacar o 20 de novembro, que no Brasil celebra o Dia da Consciência Negra, lembra que é uma data que vai muito além da memória de Zumbi dos Palmares. É o símbolo da luta contra o racismo histórico, estrutural e sistêmico que persiste em nossa sociedade. É uma data para reflexão sobre os desafios enfrentados pela população negra, que compõe mais da metade da população brasileira, e para reafirmar os compromissos com a igualdade racial.


A história do Brasil é profundamente marcada por mais de 300 anos de escravidão, um regime que instituiu práticas de exploração e desumanização de milhões de africanos e seus descendentes. Após a abolição da escravatura, em 1888, a ausência de políticas públicas de integração social dos libertos condenou a população negra ao abandono e à exclusão. Enquanto imigrantes europeus recebiam incentivos do Estado, os negros foram relegados a condições precárias de trabalho e habitação, perpetuando um ciclo de pobreza e marginalização.


Ainda no século XX, políticas como a urbanização e a "higienização" das cidades afastaram comunidades negras de centros urbanos privilegiados, alimentando a formação de favelas e periferias. A sub-representação da população negra em cargos de destaque nos campos político, econômico e acadêmico consolidou um sistema em que o preconceito explícito, associado às estruturas históricas, foi se transformando em racismo estrutural.


A Exclusão Econômica, as desigualdades salariais persistem. No mercado de trabalho, os reflexos dessa história são evidentes. Dados recentes do IBGE (2023) apontam que negros representam cerca de 56% da população brasileira, mas possuem rendimentos médios 30% inferiores em comparação à população branca. Mesmo ocupando posições equivalentes, a remuneração de trabalhadores negros é sistematicamente menor. Um estudo divulgado pelo IPEA revelou que mulheres negras enfrentam a maior disparidade, recebendo, em média, menos de 60% do salário de homens brancos.

 

Além disso, a posição ocupada por negros no mercado de trabalho reflete uma hierarquia desigual: enquanto 68% dos trabalhadores domésticos são pessoas negras, somente 4,7% ocupam cargos de liderança em grandes corporações, de acordo com levantamento do Instituto Ethos. Esse abismo se estende às oportunidades educacionais e às barreiras sociais que limitam o acesso da população negra a postos de alta qualificação.


Indicadores de exclusão social são evidentes. A exclusão racial no Brasil vai além do aspecto econômico. Indicadores relacionados à educação, saúde, segurança pública e moradia explicitam essa realidade. Segundo a PNAD Contínua (IBGE, 2023), jovens negros têm taxas de analfabetismo duas vezes maiores do que jovens brancos e enfrentam maiores chances de evasão escolar. Menos de 30% dos estudantes que ingressam no ensino superior público são negros, apesar dos avanços promovidos pela política de cotas.


Na saúde, estudos revelam que a expectativa de vida média de pessoas negras é cerca de 5 anos inferior à de pessoas brancas, reflexo direto do limitado acesso à saúde de qualidade e de condições de vida dignas. Na segurança pública, os dados mais alarmantes vêm do Atlas da Violência (2023), que destaca que negros representam 77% das vítimas de homicídio no Brasil. Essa realidade mostra a combinação de racismo estrutural com falhas nas políticas de proteção social e de combate à violência.


O significado do feriado da Consciência Negra precisa ser demarcado com a ruptura dessa realidade. Neste cenário de profundas desigualdades, o Dia da Consciência Negra não se trata apenas de relembrar injustiças passadas, mas de reconhecer o racismo ainda presente e promover debates e ações transformadoras. A data é uma oportunidade de reflexão coletiva sobre mecanismos que perpetuam a exclusão racial e de celebração da cultura negra, cuja contribuição para a identidade brasileira é inegável e vibrante.


Porém, mais que um dia de celebração ou memória, o feriado é um convite à ação. Ele nos desafia a enfrentar o racismo nos ambientes de trabalho, nas escolas, na política, inclusive a sindical, e nas interações cotidianas, entendendo que a luta por igualdade racial é uma responsabilidade de toda a sociedade. O racismo estrutural só será superado com a união de iniciativas governamentais robustas — como as políticas afirmativas para a inclusão educacional e profissional — e a participação ativa do setor privado e da sociedade civil.


Um chamado coletivo à Justiça Sociorracial nos convoca a rever privilégios, romper com preconceitos e agir para transformar estruturas desiguais. Avançamos em algumas frentes nas últimas décadas, como a implementação da Lei de Cotas e a ampliação da abordagem étnico-racial nas escolas, mas os indicadores mostram que ainda estamos longe de uma sociedade verdadeiramente igualitária.


Que o 20 de novembro seja um marco para implementar compromissos, renová-los se necessário, e de luta e conquistas a partir da força dessa consciência. Construir um Brasil mais justo depende de todos e de cada um de nós e começa com a consciência: a consciência de que a igualdade racial não é favor, mas direito.


A Diretoria